quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Drummond e Saramago para iniciar o ano

Receita de ano novo
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.



A maior flor do mundo
(baseado na obra de José Saramago)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sao Paulo


Jardim da Luz - 06/08 - by Renata


São Paulo por Washington Olivetto

Alguns dos meus queridos amigos cariocas têm mania de achar São Paulo parecida com Nova York.
Discordo deles. Só acha São Paulo parecida com Nova York quem não conhece bem a cidade. Ou melhor, quem a conhece superficialmente e imagina que São Paulo seja apenas uma imensa Rua Oscar Freire.
Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é parecer-se com muitas cidades ao mesmo tempo e, por isso mesmo, não se parecer com nenhuma.
São Paulo, entre muitas outras parecenças, se parece com Paris no Largo do Arouche, Salvador na Estação do Brás, Tóquio na Liberdade, Roma ao lado do Teatro Municipal, Munique em Santo Amaro, Lisboa no Pari, com o Soho londrino na Vila Madalena e com a pernambucana Olinda na Freguesia do Ó.
São Paulo é um somatório de qualidades e defeitos, alegrias e tristezas, festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo, como o Fasano, o Emiliano e o L'Hotel, mas também tem gente dormindo embaixo das pontes.
Tem o deslumbrante pôr-do-sol do Alto de Pinheiros e a exuberante vegetação da Cantareira, mas também tem o ar mais poluído do país. Promove shows dos Rolling Stones e do U2, mas também promove acidentes como o da cratera do metrô e o do avião da TAM em Congonhas.
São Paulo é sempre surpreendente. Um grupo de meia dúzia de paulistanos significa um italiano, um japonês, um baiano, um chinês, um curitibano e um alemão.
São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: tem diversos grandes times de futebol, sendo que um deles leva o nome da própria cidade e recebeu o apelido 'o mais querido'. Mas, na verdade, o maior e o mais querido é o Corinthians, que tem nome inglês, fica perto da Portuguesa e foi fundado por italianos, igualzinho ao seu inimigo de estimação, o brilhante e famoso Palmeiras também conhecido como Academia de Futebol.
São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em 1554, mas chegou a 2007 tendo como celebridade o permissivo Oscar Maroni, do afamado Bahamas.
São Paulo já foi chamada de 'o túmulo do samba' por Vinicius de Moraes, coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano Mathias provaram não ser verdade, e, apesar da deselegância discreta de suas meninas, corretamente constatada por Caetano Veloso, produziu chiques, como Dener Pamplona de Abreu e Gloria Kalil.
São Paulo faz pizzas melhores que as de Nápoles, sushis melhores que os de Tóquio, lagareiras melhores que as de Lisboa e pastéis de feira melhores que os de Paris, até porque em Paris não existem pastéis, muito menos os de feira.Em alguns momentos, São Paulo se acha o máximo, em outros um horror. Nenhum lugar do planeta é tão maniqueísta.
São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins cariocas, e agora são os cariocas que andam imitando as suas imitações paulistanas.
São Paulo teve o mau senso de ser a primeira cidade brasileira a importar a CowParade, uma colonizada e pavorosa manifestação de subarte urbana, e agora o Rio faz o mesmo.
São Paulo se poluiu visualmente com a Cow Parade, mas se despoluiu com o Projeto Cidade Limpa.
Agora tem de começar urgentemente a despoluir o Tietê para valer, coisa que os ingleses já provaram ser perfeitamente possível com o Tâmisa.
Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade limpa, purificando o ar, organizando o mobiliário urbano, regulamentando os projetos arquitetônicos, diminuindo as invasões sonoras e melhorando o tráfego, São Paulo jamais será uma cidade belíssima. Porque a beleza de São Paulo não é fruto da mamãe natureza, é fruto do trabalho do homem.
Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades que a cidade oferece, no clima de excitação permanente, na mescla de raças e classes sociais.
São Paulo é a cidade em que a democratização da beleza, fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se manifesta.
São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do homem trabalharam direitinho, coisa que se reconhece observando as meninas que circulam pelas ruas. E se confirma analisando obras como o Pátio do Colégio (local de fundação da cidade), a Estação da Luz (onde hoje fica o Museu da Língua Portuguesa), o Mosteiro de São Bento, a Oca, no Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o Masp, o Memorial da América Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a Pinacoteca e mais uma infinidade de lugares desta cidade que não pode parar, até porque tem mais carros do que estacionamentos.
São Paulo não é geograficamente linda, não tem mares azuis, areias brancas nem montanhas recortadas.
Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e nossos alpinistas, na maioria, são sociais. Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o quesito das belezas naturais, São Paulo se dá mundialmente muito bem por uma razão tecnicamente comprovada. Entre as maiores cidades do mundo, como Tóquio, Nova York e Cidade do México, em matéria de proximidade da beleza, São Paulo é, disparado, a melhor.

Washington Olivetto é paulista, paulistano e publicitário.

sábado, 25 de outubro de 2008

E preciso dizer NAO!

Carinho e firmeza sempre - Tia Lucy - 06/08 - by Renata


CRIANDO UM MONSTRO

Karina dos Santos Cabral


"O que pode criar um monstro?
O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por... Nada?
Será que é índole?
Talvez, a mídia?
A influência da televisão?
A situação social da violência?
Traumas? Raiva contida?
Deficiência social ou mental?
Permissividade da sociedade?
O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?
O rapaz deu a resposta:
"ela não quis falar comigo".
A garota disse não, não quero mais falar com você.
E o garoto, dizendo que a amava, não aceitou um não.
Seu desejo idiota era mais importante.
Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único.
Faltaram muitos outros nãos nessa história toda.
Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19.
Faltou uma outra mãe e pai dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento, talvez até a puxões de orelha como a moda antiga.
Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com vida.
Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá.
Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador conversasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.
É, simples assim:
bastava um NÃO.
Pelo jeito, a única que disse não nessa história, foi punida com uma bala na cabeça.
O mundo está carente de Nãos.
Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças.
Mulheres ainda têm medo de dizer não aos seus maridos (e alguns maridos, temem dizer não às esposas).
Pessoas têm medo de dizer não aos amigos.
Noras que não conseguem dizer não às sogras, chefes que não dizem não aos subordinados, gente que não consegue dizer não aos próprios desejos.
E assim, são criados alguns monstros...
Talvez alguns não cheguem a sequestrar pessoas.
Mas terão pequenos surtos quando escutarem um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco...
Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal.
E que é legal.
Os pais dizem:
"não posso traumatizar meu filho".
E, não é raro ver alguns já tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos de idade.
Outros, gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e em festas de aniversário faraônicas para suas crias.
Sem falar nos adolescentes.
Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer:
Não, você não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos.
Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei. Não, você não vai passar a madrugada na rua.
Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar.
Não, você não vai faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa não é pra você se meter.
Não, com isto você não vai brincar.
Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque. Não, etc...
Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS, crescem sem saber que o mundo onde vivem não é só deles.
E aí, no primeiro não que a vida dá (e a vida dá muitos) surtam de vez.
Usam drogas.
Compram armas.
Transam sem camisinha.
Batem em professores.
Furam o pneu do carro do chefe.
Chutam mendigos e prostitutas na rua.
E daí por diante...
Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário...
Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranquilo e livre, conseguirão entender perfeitamente uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um NÃO.
Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade.
E com certeza:
"quem ouve uns Nãos de vez em quando, também aprende a dizê-los quando é preciso".
Acaba aprendendo que é importante dizer não com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem.
O "NÃO" protege, ensina e prepara as pessoas.
Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho, quando acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos que recebo.
Nem sempre consigo, mas tento...
Acredito que é por aí que está a verdadeira prova de amor e da responsabilidade social.
E, é também por aí, que estará o começo para a solução da violência e da insegurança, cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.
Penso nisso:
A vida deve ser bela e que não pode ter monstros...
"

Esse texto nao é meu, mas penso asim também. Muitas vezes deixamos de dizer NÂO, mas ele é necessário e faz bem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia do Professor

Tapete de ideias - Grupo de Formaçao - 06/08 - by Renata



ORAÇÃO DO PROFESSOR
(Gabriel Chalita)



Senhor, tu me conheces.
Sabes onde nasci, sabes de onde venho, quem sou.
Conheces minha profissão: sou professor.
Desde criança, tinha em mim um imenso desejo de ensinar.
Queria partilhar vida, sonhos. Queria brincar de reger.
Reger bonecos. Plantas. Reger as águas do mar que desde cedo aprendi a namorar.
A todos ensinava, Senhor.
Criava e recriava histórias para senti-las melhor, para reparti-las com quem quisesse ouvi.
Eu era um professor.
Fui crescendo e percebi o quanto o sonho era real.
Queria ensinar mesmo. Estudei.
Concluí o curso universitário. Hoje sou, de fato, um professor. Com diploma, certificado e emprego estável.
Hoje não são bonecos que me ouvem, são crianças.
Dependem tanto de mim. Do meu jeito. Do meu toque. Do meu olhar.
São crianças ávidas de aprender. E de ensinar.
Cada uma tem um nome. Uma história.
Cada uma tem um ou mais medos. Traumas. Têm sonhos.
Todas elas, crianças queridas, sonham.
E eu.
Eu, senhor, sou um gerenciador de sonhos.
Sou um professor.
Respeito todas as profissões. Cada uma tem seu valor,sua formosura.
Mas todas elas nascem da minha. Ninguém é médico, advogado, dentista, doutor, sem antes passar pelo carinho, pela atenção, pelo amor de um professor.
Obrigado, Senhor.
Escolhi a profissão certa.
Escolhi a linda missão de partilhar.
Tenho meus problemas. Sofro, choro, desiludo-me.
Nem sempre dá certo o que programei. Erro muito. Aprendo errando, também.
Mas de uma coisa estou certo: sou inteiro.
Inteiro nas lágrimas e no sorriso.
Inteiro no ensinar e no aprender.
Sei que meus alunos precisam de mim . E eu preciso deles.
E por isso somos tão especiais.
E nesta nobre missão de educar, nossa humanidade se enriquece ainda mais.
Sou professor. Com muito orgulho. Com muita humildade. Com muito amor.
Sou professor!
Amém!

domingo, 10 de agosto de 2008

Casa na Arvore


Os primeiros momentos - by Renata - 07/08




Os ultimos momentos - by Renata -07/08


Alguém já viu uma casa sendo construída numa árvore?

Eu tive essa oportunidade em julho e pude registrar alguns momentos de sintonia total entre a natureza e os projetistas/construtores.

Os dois responsáveis por essa obra, Floriana e Peetsa, receberam a ajuda do Junior, Alex e Davi; além da visita de todos os curiosos que por ali passavam e queriam registrar mesmo que só na memória esse momento.

Eu acompanhei o início dessa obra, fotografei algumas cenas, mas o que vi e senti é algo quase indescritível.

Num lugar privilegiado da Fazenda Serrinha, em Bragança Paulista, um grande eucalipto cedeu seus galhos para a montagem dessa casa. Com muito cuidado para não ferir a árvore que tão generosamente se prontificou em ajudá-los nessa empreitada, eles limparam o terreno em volta e armaram um verdadeiro acampamento com equipamentos, materiais necessários e ferramentas para a obra.

Tudo tinha que ser manual, sem o uso de energia e aproveitando ao máximo o que a própria natureza oferecia.

Eles iam pra lá cedinho e só voltavam ao anoitecer..... a casa tinha que ficar pronta.....

Eu acompanhava a evolução da obra, mas sabia que teria que ir embora antes dela ficar pronta e isso me incomodava um pouco.

Deixei esse pensamento de lado e todos os dias dava uma passadinha por lá, sempre acompanhada das minhas amigas Suzana e Regina.

Para chegarmos à árvore, tínhamos que escalar um pequeno morro, segurando uma corda....isso já era emocionante.....

Morrinho escalado, o cuidado para não atrapalhar e principalmente para não ficar em alguma posição que pudesse cair algo em nossas cabeças.

Escolhíamos uma árvore para encostar.... um cantinho para sentar e ali ficávamos por alguns momentos observando a ação deles.

Algo totalmente sintonizado... bonito...

Toda essa rotina durou apenas 4 dias.... mas tão intensos que agora que vejo que foram apenas 4, me dou conta que o tempo é sempre muito relativo.

Depende do que fazemos, com quem fazemos e onde fazemos.

Bem... nos despedimos de todos e eu disse que voltaria no final do mês para ver o resultado dessa obra.

Dito e feito... voltei, vi e fiquei maravilhada com o resultado...

Quando cheguei no pe da árvore me deparei com uma escada de corda e madeira... não pensei duas vezes.... pendurei minha máquina e comecei a subida.

Regina, que me acompanhava dessa vez, falou que não ia subir e que eu era louca, mas eu com toda a minha valentia disse que não podia perder essa oportunidade.

Valentia que começou a ir embora conforme ia avançando os degraus e o chão distanciava-se cada vez mais dos meus pés...mas eu não tinha como voltar.... precisava subir...

Cheguei até o último degrau, mas não consegui entrar na casa, sinceramente fiquei com medo de não conseguir voltar para a escada...por isso tentei fotografar dali mesmo, meio desequilibrada, mas senti uma sensação muito boa ao ver aquela casa pronta e de ter conseguido chegar ao topo da escada.

Que bom que eu voltei para ver o resultado.
Acompanhar essa obra/instalação foi uma experiência única e que tentei compartilhar com vocês aqui nesse espaço.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Atrite-se

Eu na Serrinha - by Suzana - 07/08



"Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho; nós mudamos nos encontros.
Simples, mas profundo, preciso. É nos relacionamentos que nos transformamos. Somos transformados a partir dos encontros, desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela idéia e sentimento do outro.
Você já viu a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio, e as pedras que estão em sua foz? As pedras na nascente são toscas, pontiagudas, cheias de arestas. À medida que elas vão sendo carregadas pelo rio, sofrendo a ação da águae se atritando com as outras pedras,ao longo de muitos anos, elas vão sendo polidas, desbastadas. Assim também agem nossos contatos humanos.Sem eles, a vida seria monótona, árida.
A observação mais importante é constatar que não existem sentimentos, bons ou ruins, sem a existência do outro, sem o seu contato. Passar pela vida sem se permitir um relacionamento próximo com o outro, é não crescer, não evoluir, não se transformar. É começar e terminar a existência com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.
Quando olho para trás, vejo que hoje carrego em meu ser várias marcas de pessoas extremamente importantes. Pessoas que, no contato com elas, me permitiram ir dando forma ao que sou, eliminando arestas, transformando-me em alguém melhor, mais suave, mais harmônico, mais integrado. Outras, sem dúvida, com suas ações e palavras me criaram novas arestas, que precisaram ser desbastadas. Faz parte... Reveses momentâneos servem para o crescimento. A isso chamamos experiência.
Penso que existe algo mais profundo, ainda nessa análise. Começamos a jornada da vida como grandes pedras, cheias de excessos. Os seres de grande valor, percebem que ao final da vida, foram perdendo todos os excessos que formavam suas arestas,se aproximando cada vez mais de sua essência, e ficando cada vez menores, menores, menores... Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, ínfimos, dada a compreensão da existência e importância do outro, e principalmente da grandeza de DEUS, é que finalmente nos tornamos grandes em valor.
Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado? Sabemos quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago. É lá que está o verdadeiro valor... Pois, DEUS fez a cada um de nós com um âmago bem forte e muito parecido com o diamante bruto, constituído de muitos elementos, mas essencialmente de AMOR. DEUS deu a cada um de nós essa capacidade, a de AMAR... Mas temos que aprender como. Para chegarmos a esse âmago, temos que nos permitir, através dos relacionamentos, ir desbastando todos os excessos que nos impedem de usá-lo, de fazê-lo brilhar.

Por muito tempo em minha vida acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins. Não entendia que ferir e ser ferido, ter e provocar raiva, ignorar e ser ignorado faz parte da construção do aprendizado do amor. Não compreendia que se aprende a amar sentindo todos esses sentimentos contraditórios e... os superando.
Ora, esses sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento... E envolvimento gera atrito. Minha palavra final: ATRITE-SE!Não existe outra forma de descobrir o AMOR. E sem ele a VIDA não tem significado."
Roberto Crema
– Presidente do Colégio Internacional dos Terapeutas – UNIPAZ.
Eu precisaria de muito espaço para colocar o nome de todas as pessoas que ja passaram pelo meu caminho... mas cada uma delas ao ler esse texto sabera que deixou marcas na minha vida e me ajudou a enfrenta-la com sabedoria...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

7º Festival de Arte Serrinha

A arte na Serrinha - by Renata - 07/08

Comecei a tomar conhecimento a respeito do Festival de Arte da Serrinha logo na sua primeira edição, através da Regina, mãe dos irmãos Delduque, Fábio e Marcelo, idealizadores do festival.

Desde então, falo que vou passar pela fazenda no mês de julho para participar de alguma oficina, workshop ou simplesmente ficar à toa por lá. Claro que isso acabava não sendo possível e ficava a promessa de que no próximo ano eu iria.

Agora, que o mês de julho está acabando e o festival também, posso dizer que fui até lá e que passei momentos inesquecíveis naquela fazenda. Fiquei de 6 a 11 de julho e voltei no dia 26 para ver mais uma vez aquela paisagem maravilhosa e quais transformações haviam acontecido no intervalo de 15 dias.

Participar do festival é uma experiência marcante até mesmo para aqueles que vão lá apenas para observar, como foi o meu caso.

As pessoas são maravilhosas e isso torna o ambiente muito mais acolhedor do que se possa imaginar.
As horas passam rapidamente, ao mesmo tempo em que se arrastam, mas nunca há tédio. O simples fato de você ficar deitada na grama olhando o céu ou apreciando as manifestações artísticas que acontecem sem parar a sua volta, tornam o dia repleto de vivências novas.

O ateliê fica pequeno para tantos artistas, que saem com seus pincéis e telas para os arredores dele. As tintas se misturam com o verde da natureza formando um colorido indescritível.

O olhar de todos é aguçado por tantas coisas belas que a própria natureza oferece e coloca diante dos nossos olhos sem precisar fazer força. As interferências que acontecem no espaço, não machucam a natureza, pelo contrário, buscam agradá-la e reverenciá-la.

A natureza é tratada como merece, com cuidado, carinho, atenção e por isso ela responde com suas matas, flores, cores e o silêncio que faz bem aos ouvidos. O canto dos pássaros é uma arte a parte dentro desse imenso e silencioso verde.

A arte está presente em todos os lugares. Quando vamos tomar um café, por exemplo, somos brindados com um cuidado e um carinho na apresentação de cada prato que é servido. Tudo é feito para que você se sinta bem e queira voltar, ou melhor, não queira sair de lá.

Nada se repete, tudo se renova ou é criado e as marcas de quem passou por lá vão ficando e tornando o espaço cada vez mais convidativo e iluminado.
Deixo aqui registrado o meu agradecimento pela forma como fui acolhida nessa 7ª edição do festival... Regina, tia Lucy, Fábio, Marcelo, Marina, Junior, Marcela, Flor, Peetsa, Alex, Cida, Oswaldo, Dudi, Bené, Lica, Carlão, Reginaldo e tantas outras pessoas que estiveram por lá na mesma época que eu.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Inspiração


Na Fazenda Serrinha - by Suzana - 07/08

Estranho pensar que mesmo tendo feito várias coisas interessantes nesse início de férias, nao consigo inspiração para escrever.

Mil fotos tiradas.........mil lugares visitados.........muita gente nova no meu caminho.......

Por hora fica só o registro da falta de inspiração.....mas sei que em breve ela aparecerá e poderei colocar aqui as minhas vivências desses últimos 15 dias.

sábado, 7 de junho de 2008

O que ensinar?


No caminho da Serra da Bocaina - by Renata 12/06

Marcelo Parada, começa sua coluna semanal com o seguinte parágrafo:
"Ouço que a Secretaria da Educação de São Paulo vai promover seminários e oficinas para ensinar a meninada a comer melhor. Nada contra, tudo a favor. Aliás, se vão ensinar a comer melhor é sinal que os alunos da rede pública estão comendo, o que não é pouca coisa. Antipatizo mesmo é com o uso indiscriminado da palavra oficina. Na minha infância, meu tio Antero tinha uma oficina entre o Imirim e Santa Terezinha. Para a oficina, eram levados carros com defeito. Lá trabalhavam homens com macacões sujos de graxa em ambiente marcado por calendários de mulheres desnudas."

Em seguida faz comparações com a oficina de carros, imaginando como as crianças e professores se comportariam em uma oficina de alimentação. Em tom de brincadeira vai descrevendo a cena até chegar ao ponto que imagino que ele queria tocar, que se refere ao que a Secretaria de Educação deveria estar preocupada, ou seja....com a educação propriamente dita.

Claro que a Secretaria se manifestou em nota de esclarecimento, indignida com os comentários do jornalista, rebatendo a sua crítica a tal oficina para ensinar a comer melhor.


Na semana seguinte, junto com a nota, Marcelo escreve outra vez sobre o assunto, referindo-se então aos números do desempenho dos alunos do Estado de São Paulo: "Eis, porém, que caem em minhas mãos os resultados com o desempenho dos alunos do ensino público de São Paulo em recente rodada de testes. A julgar pela arrogância da resposta da Secretaria da Educação, imaginei que nosso Estado apresentaria aquela medalha reluzente de honra ao mérito, aquele 10 com louvor que a gente enche a boca antes de proclamar ao mundo. Mas que decepção, que tristeza. Não, leitor, não imagine um 5 magricelo, tampouco o 4 com ar de falência múltipla dos órgãos. São Paulo levou mesmo a nota 1,41 na escala de zero a dez, o que significa o seguinte: nossos alunos não estão aprendendo nada de matemática, português, história ou biologia. "

Fala mais algumas verdades sobre o nosso ensino público e fiquei imaginando se a Secretaria iria rebater essa nova coluna. Ou eu perdi alguma coisa, ou a tal Secretaria achou por bem, ficar quieta.

Mas, um novo fato chamou a minha atenção durante essa semana. Um guia para os professores de inglês publicado pela Secretaria de Educação, saiu com um erro de português. A palavra ensino, grafada ENCINO.

A resposta da Secretaria quando foi consultada se iria recolher os exemplares, foi que como a palavra só apareceu uma vez e não cairia nas mãos dos alunos, não havia necessidade de ser recolhida e impressa novamente.

Será que os responsáveis pelo ensino público do Brasil, acham que, pelo fato dos alunos não verem pode ser divulgado algo escrito errado? O que mais está errado no nosso ensino que os alunos não vêem e por isso não são prejudicados? O que devemos ensinar realmente? O que é preciso aprender?

Penso que os alunos mereciam uma resposta a tudo isso...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Vida...


Mães, filhas, avó, tias, irmãs...e alguns homens com seus títulos também...
Dia das mães - 05/96

Uma notícia que recebi hoje na hora do almoço, fez com que meu pensamento voasse no tempo e lembrei de algumas coisas engraçadas dos tempos de menina e outras de nem tanto tempo assim.

Soube que serei tia-avó.... título engraçado porque quando eu era criança achava que isso era só para velhas. Será então que sou uma velhinha?

Rapidamente minha mente começou a funcionar sem parar e como um novelo que se desenrola comecei a pensar em sequência.

Aquela meninha que segurei no colo há 23 anos atrás, passa de filha, sobrinha, neta para mãe em um segundo....

Aquela mãe, irmã e filha se transforma em avó num passe de mágica.

A mãe e avó se vê frente a frente com a novidade que será bisavó.

A irmã que poderá passar logo logo por esse processo, experimenta o sabor de ser tia pela primeira vez.

E eu, que era simplesmente filha, irmã, tia e mãe, ganhei o título de tia-avó.

Parabéns mamãe, vovó, bisa, tia-avó, tia.....uma nova fase inicia na vida de todas nós... que bom que a vida está sempre se renovando...

domingo, 25 de maio de 2008

Expressão


Isidro Ferrer, in o Livro das Perguntas


Acompanhando o "LIVRO DAS PERGUNTAS" de Pablo Neruda, com ilustação de Isidro Ferrer e tradução de Ferreira Gullar, editado pela Cosac Naify, que acabei de comprar, veio um marcador de páginas com a seguinte frase:

"O essencial da arte é exprimir; o que se exprime não interessa" Fernando Pessoa.

Isso me dá forças para continuar escrevendo e fotogrando cada vez mais.

É a minha expressão!

Mais sobre o livro...


"Uma forma de instigar inquietação e curiosidade das crianças, o Livro das perguntas, de Pablo Neruda, é um trabalho sem paralelo na obra deste que foi um dos maiores poetas do século XX. A edição tem tradução do também poeta Ferreira Gullar e conta com um esmerado projeto gráfico e impressão cuidadosa.
Espécie de testamento poético, onde o olhar da criança convive com o do homem sábio, o livro traz uma viagem ao imaginário de Neruda, onde as mais de 200 perguntas, divertidas e fora do comum, ajudam o leitor a refletir sobre o mundo, os homens, os animais, os elementos da natureza, o significado da vida e da morte, sobre tudo, enfim.
Com reproduções fotográficas de colagens e instalações, o ilustrador Isidro Ferrer, ao invés de tentar responder às perguntas de Neruda, captura a essência dos poemas e cria suas próprias questões por meio de uma série de pequenos cenários surrealistas, construídos como metáforas da sua maneira de perceber o mundo.
Ao final, a edição dá voz às crianças, que assinam os textos sobre o autor, ilustrador e tradutor." (Sinopse retirada do site da Editora Cosac Naify)

sábado, 24 de maio de 2008

Os Olhos da Cara


Guarapari - by Bruno 01/08

Mais um texto que recebo e tem tudo a ver com meus pensamentos e idéias.

Por que esconder a idade? Porque querer mudar o corpo com intervenções cirúrgicas? Porque querer mudar algo que não pode ser mudado?

Você pode mudar os momentos que viveu? Você pode mudar as experiências que teve ao longo dos anos? Você pode modificar o seu modo de pensar e agira, mas de um momento em diante, e não o que passou.

Se você não está satisfeita consigo mesma e quer dar uma guinada em sua vida, de nada adianta mudar somente a carcaça, tem que mudar o interior, a maneira de encarar a vida, a maneira de enfrentar os problemas.

Eu não me arrependo de nada que fiz e as lembranças que trago são cheias de emoção e de marcas em minha vida. Boas e más lembranças com certeza. A vida não é feita só de alegrias, as tristezas fazem parte do nosso dia-a-dia e tornam a nossa caminhada mais forte.

O que mudaria hoje? Não sei. Acho que só o fato de refletir sobre diversos assuntos e tornar público o meu pensamento já é uma forma de mudança de atitude.

O que eu gostaria que voltasse no tempo? Nada... apenas ter uma moto novamente... E isso em breve se tornará realidade.

Tente tornar todos os seus sonhos em realidade, a vida fica uma delicia quando vamos atrás de nossos sonhos!



OS OLHOS DA CARA
Martha Medeiros


"Mês passado participei de um evento co­memorativo ao Dia da Mulher. Era um bate‑papo com uma platéia composta de umas 250 mu­lheres de todas as raças, credos e idades. Principalmente idades. Lá peIas tantas fui ques­tionada sobre a minha e, como não me en­vergonho dela, respondi. Foi um momento ines­quecível. A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito. E quando eu disse que, até aqui, ainda não enfiei uma única agulha no rosto ou no corpo, foi mais emocionante ainda: 'Ooooo­ooooooooooohhhhhh!' Aí fiquei pensando: 'Pô, estou neste auditório há quase uma hora exi­bindo minha incrível e sensacional inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho. Onde é que nós estamos?' Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo, e com sucesso: quanto mais ele passa, mais moços ficamos. 0.k., acho ótimo, porque de­crepitude também não é meu sonho de con­sumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama‑se mudança. Eu sei disso, você sabe, e a escritora Betty Milan. também, tanto que enfatizou essa frase em seu mais recente livro, 'Quando Paris cintila'. De fato, quem é escravo da repetição está con­denado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter dispo­sição para guinadas. É assim que se morre jovem, sem precisar ter o mesmo destino de um James Dean ou de uma Marilyn Monroe. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos. Mudança, o que vem a ser tal coisa? Minha mãe recentemente mudou do apar­tamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu. Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos de idade. Rejuvenesceu. Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego em Porto Alegre por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu. Toda mudança cobra um alto preço emo­cional. Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora‑se muito, os ques­tionamentos são inúmeros, a vida se deses­tabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face. Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar. Um olhar iluminado, vivo e sagaz impede que a pessoa envelheça. Olhe‑se no espelho. Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter. E aí pode abrir o jogo, contar a verdade: tenho 39, 46, 57, 78 anos! Ooooooohhhhhhh. Uma guria." (Revista O Globo 6 de abril de 2008)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Tempo e a Varanda

Há 16 anos atrás mudei para esse apartamento onde moro até hoje e com essa mudança tive que mudar meu itinerário do trabalho até em casa.

Novas paisagens passaram a fazer parte do meu trajeto e fui me habituando a elas. Eu sempre tive a facilidade de escolher vários caminhos alternativos para fugir do trânsito de São Paulo, então, toda vez que o carro ficava parado mais de 5 minutos eu logo tentava outras alternativas.

Mas o que me faz vir aqui e escrever, não são as alternativas do trânsito de São Paulo e sim um fato que me chamou a atenção. Um lugar que eu passei em frente por esses anos todos e descobri que durante 15 anos uma varanda fez parte da minha vida e agora ela se foi.

Não, eu não falo de uma casa que foi abaixo e surgiu um prédio, nem das tantas que foram reformadas e transformadas em lojas, restaurantes, escolas ou bancos.

Eu falo de uma agência de publicidade que toda semana, ou a cada 15 dias, mudava as frases que colocava na sua varanda. Frases essas que estimularam meus filhos no início da alfabetização. Muitas vezes eles não entendiam o conteúdo, por se tratar de assuntos que não eram muito próprios para crianças, e na medida do possível eu explicava para eles.

Eles cresceram lendo as frases e eu, toda vez que passava por lá e o trânsito estava fluindo pedia que eles lessem para mim, adorava passar lá e ver uma nova colocação... sempre geniais.

Há algumas semanas me deparei com a seguinte colocação:



(VAMOS MUDAR. DEPOIS DE 15 ANOS, NOSSA VARANDA INFELIZMENTE VAI ACABAR. MANDE SUA FRASE FAVORITA PARA O FESTIVAL DA VARANDA. VARANDA@NOVASB.COM.BR)

Pois é. Foi quando me dei conta do tempo que havia passado entre eu descobrir a varanda e hoje quando ela simplesmente vai sair da minha vida e da tantas outras pessoas que com certeza se acostumaram a ela.

Em seguida a essa mesnagem apareceu outra:



(ESTA VARANDA JÁ FICOU TRISTE, ALEGRE, INDIGNIDA, COM VERGONHA. JÁ FEZ HOMENAGENS, BRINCADEIRAS, JÁ FICOU BRAVA E DISSE O QUE MUITA GENTE QUERIA FALAR. JÁ ESTAMOS COM SAUDADES!)



E ontem, infelizmente estava sem minha câmera, já tem outra mensagem, que pelo seu conteúdo será a última. Tentarei fotografar na segunda feira (e se conseguir a colocarei aqui) quando farei meu trajeto diário novamente, pensando para onde vai a varanda?

Consegui fotografar........ (TCHAU. OBRIGADO. E ATÉ MAIS!)


Será que as geniais sacadas do cotidiano sobre o povo brasileiro e o mundo irão para outro lugar? Como farei para ler novamente as frases da varanda?

E mais... o que será que vai acontecer com aquela casa? No que ela se transformará? Qual o uso que será dado àquela varanda?

Adeus varanda...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Saber Viver


Serra da Bocaina - by Renata - 12/06


Para acompanhar esse texto, não preciso fazer nenhum comentário, ele fala sobre a vida e como vivê-la.




Saber Viver
Cora Coralina


"Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar"

segunda-feira, 7 de abril de 2008

As escolhas na vida


Praia de Itamambuca - Ubatuba -
by Renata - 07/2006



A vida é feita de escolhas... de caminhos que se abrem a nossa frente... de bifurcações que nos fazem pensar e decidir... de pontes que aparecem para serem atravessadas... ou não... de rios que se apresentam para serem atravessados... de sonhos que querem se transfomar em realidade... A vida é feita de vida... As escolhas aparecem diante de nossos olhos e decidimos consciente ou inconscientemente. Quando pequenos, temos que decidir entre um brinquedo ou outro, uma roupa ou outra, mas essas coisas que parecem simples aos olhos dos adultos já são o início das primeiras decisões que precisamos tomar em nossa longa caminhada. Crescemos e muitas vezes precisamos ir em frente e para isso novos caminhos se abrem, várias encruzilhadas aparecem diante de nossos olhos e muitas escolhas devem ser feitas.


“Eis aqui uma das grandezas do ser humano: a capacidade de decidir. E eis aqui uma das suas misérias: decidir-se por alguna coisa implica rejeitar as outras alternativas. Decidir não é mais que o fato de descartar. E descartar sempre é doloroso, porque quer dizer deixar de desfrutar ou descobrir o que havia num caminho alternativo. Que aventura perdemos? O que teria passado se em vez disso eu tivesse feito aquilo?

Formular essas perguntas pode transformar-se em um pesadelo. As pessoas são indecisas, basicamente, por dois motivos. Um, pelo medo de enganar-se. Dois, pelo sofrimento que lhes produz descartar opções que neste momento estão ao alcance da mão.

O homem costuma encarar o ato de descartar como uma perda. Mas antes de tomar uma decisão, a sensação de poder é indescritível. Suponhamos que uma pessoa deve escolher uma profissão. É uma das decisões mais determinantes da vida, e deve ser tomada quando temos 17 ou 18 anos. Antes de decidir, esta pessoa tem diante de si um leque enorme de profissões. Há jovens que não sabem se fazem história, jornalismo, letras, direito… outros ficam entre medicina, biologia, veterinária ou nutrição. Enquanto não tome a decisão, sou todas estas profissões porque ainda posso escolhê-las. Que poder enorme! Mas quando me decidir, se escolho biologia, serei só biólogo. E um monte de caminhos que se abriam na encruzilhada de meu futuro se apagarão num instante.

Quando passa o tempo, e essa pessoa faz 30 ou 40 anos, se pergunta: Que teria passado se tivesse escolhido medicina em vez de biologia? Como seria minha vida? E então começará a inventar uma vida paralela, extraordinária e excitante. Imaginando que conheceu uma enfermeira com quem se casou e viveu com ela alguns anos nos Estados Unidos. Claro que o contrário também pode acontecer: se não tivesse escolhido biologia, não teria ido estudar naquela cidade e não teria conhecido aquela amiga, que me apresentou a minha atual mulher. E então meus filhos não existiriam… onde estariam? Onde estaria eu se meus pais não se tivessem conhecido? E se o espermatozóide que levava minha identidade tivesse ficado um milímetro para trás, com os milhões que não chegaram ao óvulo da minha mãe? O que sou eu? Uma coincidência? O que é minha vida? Quem realmente decide?” (Rosa Montero)

domingo, 6 de abril de 2008

A Louca da Casa


No caminho da Serra da Bocaina - by Renata - 12/2006

Quando li "A louca da Casa" de Rosa Montero, me deparei com várias passagens que pareciam ter sido tiradas da minha vida. A leitura desse livro foi um dos caminhos que apareceram na minha frente e que me fizeram querer escrever e tornar público os meus pensamentos, as minhas vontades, as minhas lembranças, as minhas idéias. Assim como Rosa, escrevo em vários momentos do meu dia, mas principalmente quando estou dirigindo ou antes de dormir.... Pena que raramente tenho um papel por perto para poder colocar esses pensamentos....que se vão assim que o papel aparece......

"O escritor está sempre escrevendo. Nisto consiste a graça de ser romancistas: na torrente de palavras que borbulham constantemente em seu cérebro. Já redigi muitos parágrafos, inúmeras páginas, incontáveis artigos enquanto estou passeando com meus cachorros, por exemplo: na minha cabeça vou deslocando as vírgulas, trocando um verbo por outro, afinando um adjetivo. Muitas vezes escrevo mentalmente a frase perfeita e volta e meia, se não a anoto a tempo, ela me escapa da memória. Resmunguei e me desesperei muitíssimas vezes tentando recuperar aquelas palavras exatas que por um momento iluminaram o interior de minha cabeça e depois tornaram a mergulhar na escuridão. As palavras são como peixes abissais que só nos mostram um brilho de escamas em meio às águas pretas. Se elas se soltarem do anzol, o mais provável é que você não consiga pescá-las de novo. São manhosas as palavras, e rebeldes, e fugidias. Não gostam de ser domesticadas. Domar uma palavra (transformá-la em clichê) é acabar com
ela." (Rosa Montero, in A Louca da Casa)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Transformando Sonhos em Realidade




Reprodução da Casa da Ninoca - by Renata - 10/07

Será que quem navega por esse blog sabe o que eu faço? Não vou deixar isso declarado... mas imagino que seja bem fácil de descobrir através das minhas mensagens ou dos textos e livros que indico.

Escrevo o que borbulha na minha mente, os assuntos que me deixam inquieta ou que me fazem refletir, escrevo por aí... escrevo o tempo todo... pena que só às vezes tenho como colocar as palavras que me perseguem em todos os lugares no papel, pena que às vezes eu as perco pelo meio do caminho...

Agora vou falar um pouco sobre escola... educação.... sonhos....

Por falar em sonhos... imagine uma criança pequena "lendo" um livro e de repente esse livro toma vida e todos os cenários ficam do tamanho dessa criança.

Você já teve o prazer de ver uma criança se deparando com essa situação?

Eu tive...

Muitas professoras escolhem desde a infância essa profissão, já nas brincadeiras de criança. Outras só descobrem que querem seguir essa carreira mais tarde, quando tem que fazer a opção por uma faculdade, muitas vieram do acaso e ainda tem a parcela que nem necessitou de formação, pois a profissão caiu em suas mãos.

De uma maneira ou de outra, o que importa é o que se faz quando temos a responsabilidade de educar, de transmitir conhecimento. Não podemos esquecer que somos a base de tudo, que a escola tem uma importância fundamental na formação integral do aluno.

Aluno aqui, pode ser a criança de creche, que chega em nossas mãos aos dois ou três anos de idade sem entender muito por que está sendo deixada ali com tantas outras crianças e sem a mãe. E também pode ser o aluno que chega à faculdade sem ter certeza do que quer fazer ou já num nível mais alto, numa pós graduação, mestrado ou doutorado. Não importa, são todos alunos e professores, por escolha, vocação ou necessidade.

Para atender toda essa diversidade de intenções, o educador tem que querer fazer, tem que gostar de ensinar e tem que ter afeto e saber respeitar.

O afeto é a chave da educação, pois de uma forma ou de outra, com uma idade ou outra, todo ser humano precisa ser tratado com carinho e ser respeitado pelo outro em suas dificuldades e necessidades.

Para que tudo isso ocorra, precisamos construir as escolas dos nossos sonhos. E essas escolas existem dentro de cada educador e eles devem usar esses sonhos onde estiverem.

Não importa o espaço físico que dispõe, o material que tem ou não para usar. O educador, seja ele professor, coordenador, diretor, supervisor ou voluntário, tem que acreditar no que faz, e agir para que a escola que trabalha seja a escola dos seus sonhos.

Cada um deve trabalhar com aquilo que tem, da melhor maneira possível. Não existe a escola dos meus sonhos... existem os meus sonhos adaptados à realidade em que atuo...


domingo, 9 de março de 2008

Onde estão os valores?


Fe e Bru - by Renata - 12/97

Para variar recebo mensagens e textos que me fazem pensar sobre diversos assuntos.

Arnaldo Jabor tem o dom de "cutucar a onça com vara curta", de fazer refletir, de falar o que todos pensam e não tem coragem de dizer.
Dessa forma, ajudo a divulgar o pensamento dele, que tenho certeza é de milhões.
Espero que eu tenha conseguido passar bons valores para meus filhos...
Leiam... reflitam... e tomem atitudes... Só achar bonito não adianta nada!

QUERO VOLTAR A CONFIAR
Arnaldo Jabor

"Fui criado com princípios morais comuns:

Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos, eram autoridades dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades… Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade… Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror… Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos. Por tudo o que meus netos um dia enfrentarão.

Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser tonto… Anistia para corruptos e sonegadores… O que aconteceu conosco? Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas. Que valores são esses? Automóveis que valem mais que abraços, filhas querendo uma cirurgia como presente por passar de ano. Celulares nas mochilas de crianças. O que vais querer em troca de um abraço? A diversão vale mais que um diploma. Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa. Mais vale uma maquiagem que um sorvete. Mais vale parecer do que ser… Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo?

Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores! Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão! Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho. Quero a esperança, a alegria, a confiança! Quero calar a boca de quem diz: “temos que estar ao nível de…”, ao falar de uma pessoa. Abaixo o “TER”, viva o “SER”. E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como um céu de primavera, leve como a brisa da manhã!

E definitivamente bela, como cada amanhecer. Quero ter de volta o meu mundo simples e comum. Onde existam amor, solidariedade e fraternidade como bases. Vamos voltar a ser “gente”. Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas. Utopia? Quem sabe?… Precisamos tentar… Quem sabe comecemos a caminhar transmitindo essa mensagem… Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão!”.

Jabuticabas


Acampamento Rio Selvagem -
by Kleber ATM - 10/2007

Hoje, assim que fui verificar minha caixa de correio, tive a grata surpresa de receber um texto de minha irmã, que me fez voltar no tempo.
Quando era pequena, passava algumas férias na fazenda de meu tio-avô em Jaú. Fazenda Santo Antonio.
Uma das minhas maiores lembranças é de comer as frutas direto do pé. Algumas frutas você pode comprar no supermercado, feira ou sacolão, trazer para casa e comer a vontade que não sente a diferença, mas jabuticaba não.
Não existe, para mim, melhor maneira de comer jabuticaba do que direto no pé, em cima da árvore, tentando alcançar as maiores e mais maduras. Sentir o gostinho doce de cada frutinha, e comer até ficar empanturrada e mesmo assim só parar quando não tem mais para comer.
No ano que passou, acompanhei as crianças da escola ao acampamento Rio Selvagem, onde tem vários pés de jabuticaba. Não resisti a tentação e fui parar lá em cima em busca das frutinhas mais saborosas. O pessoal do acampamento até me presenteou com um saco cheio dessas frutinhas maravilhosas para que as comesse com calma e "bem acomodada" na minha casa. Claro que não teve o mesmo sabor, mas valeu a intenção deles. Ainda bem que mais uma vez na minha vida, pude me empanturrar de jabuticaba.

Agora o texto....que fala de jabuticabas, valores e tempo.....



Sobre Tempo e Jabuticabas
Ricardo Gondim

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo."